“Desentendimento”: Ruy Ohtake e Márcio Thomaz Bastos respondem a críticas

serrote

11.08.11

Abaixo, segue reprodução de carta enviada por Ruy Ohtake e Márcio Thomaz Bastos nesta semana ao IMS. Ambos respondem a declarações feitas no debate promovido pelo site da revista serrote em torno da obra de Oscar Niemeyer. A conversa foi filmada, editada e publicada na seção “Desentendimento” no mês passado. O evento reuniu os arquitetos Guilherme Wisnik e Pedro Fiori Arantes e teve mediação de Fernando Serapião. (Clique aqui para ver a carta original digitalizada.)

São Paulo, 08 de agosto de 2011

À

Revista Serrote

Recentemente, chegou ao nosso conhecimento vídeo publicado no Blog da REVISTA SERROTE apresentando “o quarto encontro da seção Desentendimento” que “trata da obra de Oscar Niemeyer, pensando-se seu papel na história da arquitetura brasileira”[1] com a participação dos debatedores GUILHERME WISNIK e PEDRO FIORI ARANTES e do mediador FERNANDO SERAPIÃO.

No 4° bloco do encontro, sob o tema “a arquitetura pública contraposta à arquitetura de poder“, os debatedores passaram a externar sua opinião acerca do trabalho de RUY OHTAKE, ultrapassando, contudo, os limites da crítica arquitetônica.

Indignados com o teor do vídeo, não podemos deixar de prestar alguns esclarecimentos, imprescindíveis ao restabelecimento da verdade.

Nessa perspectiva, importante registrar, inicialmente, que, ao contrário do que aduz um dos debatedores, RUY OHTAKE não é empreendedor imobiliário e nunca foi proprietário de terrenos ou lotes na área da Avenida Brigadeiro Faria Lima.

Aliás, não teve qualquer participação no desenho desta via. Seu único vínculo com esta região reside no fato de que projetos arquitetônicos de algumas obras particulares ali situadas são de sua autoria.

Também é equivocada a afirmação no sentido de que representa a “mistura entre o arquiteto e o especulador empreendedor imobiliário“, pois não é do seu feitio especular no mercado imobiliário. Ele concentra esforços unicamente em sua profissão de arquiteto.

No que tange ao projeto da residência do Sr. EDEMAR CID FERREIRA, RUY OHTAKE apenas aceitou o trabalho pelo desafio arquitetônico que lhe foi lançado, tendo em vista a dimensão e a finalidade da obra – um palacete contemporâneo para acolher não só os familiares do Sr. EDEMAR, mas também uma importante coleção de arte.

Tratava-se de um trabalho instigante para qualquer arquiteto, assim como para artistas e designers que foram contratados para elaborar obras especiais, em uma época em que o Sr. EDEMAR era um dos maiores empreendedores culturais do país.

Ademais, a participação do arquiteto consistiu apenas e tão somente no projeto da residência, sem que houvesse qualquer envolvimento em seus assuntos profissionais.

A respeito do trabalho realizado em Heliópolis, impende registrar que seus serviços foram requisitados, inicialmente, por um líder da comunidade. Desde então, há quase 10 anos, ele vem desenvolvendo vários projetos em conjunto com os moradores.

Iniciou os trabalhos com a pintura de casas e, logo após, participou da criação de uma biblioteca formada por acervo selecionado pelo Prof. ANTONIO CANDIDO em colaboração com JOSÉ CASTILHO, então diretor da BIBLIOTECA MUNICIPAL DE SÃO PAULO, e operada por estudantes da própria comunidade.

Posteriormente, RUY OHTAKE elaborou o projeto do Pólo Educacional e Cultural, onde há creches, escolas – inclusive uma FATEC -, um centro cultural e, ainda em construção, a TORRE DA CIDADANIA e a nova biblioteca.

Com frequência, visita o bairro no intuito de conhecer os problemas enfrentados pelos moradores e discutir arquitetura. Isto porque, após anos de trabalho e convivência intensa, o arquiteto descobriu que sem o auxílio dos próprios membros das comunidades é impossível fazer um urbanismo que torne as cidades mais igualitárias.

Vale ressaltar que esta troca permanente resultou na solicitação dos próprios moradores à SEHAB para que ele projetasse o conjunto residencial de Heliópolis.

Sobre esse assunto, um dos debatedores passou a criticar o seu trabalho, afirmando que RUY OHTAKE impõe no conjunto residencial de Heliópolis uma “arquitetura autoral duvidosa” em detrimento do bem estar das pessoas, avançando sobre as desvantagens da forma arredondada adotada nesses edifícios habitacionais.

No entanto, esse projeto residencial foi inteiramente elaborado com a constante preocupação em atender as necessidades locais e com vistas ao desenvolvimento da habitação social. Somente após muito diálogo com a comunidade e muitos estudos apresentou-se o trabalho final.

E sob o ponto de vista estético e social, o formato circular apresenta-se excelente, pois obriga um distanciamento entre os prédios, retirando a atmosfera opressiva que geralmente há neste tipo de condomínio e acaba por permitir uma visão mais ampla a partir de todos os cômodos dos apartamentos.

Além disso, em razão deste novo formato, todas as dependências têm iluminação e ventilação naturais e os prédios não apresentam frente nem fundo, de maneira que a fachada é total e estende-se ao espaço coletivo, já beneficiado pelas alamedas de passeio que serpenteiam entre jardins nos andares térreos interligados do conjunto.

Não à toa, a aprovação deste novo estilo de construção foi unânime entre os moradores, que demonstram grande orgulho deste conjunto e aguardam ansiosos a inauguração de 21 dos 60 edifícios ainda este mês.

Diante dessas elucidações, esperamos ter desfeito os equívocos divulgados e sanado eventuais dúvidas a respeito da pessoa de RUY OHTAKE, do seu caráter e do seu trabalho.

Por fim, gostaríamos de requisitar a Vossa Senhoria que passasse a adotar comportamento mais cauteloso e criterioso ao promover e divulgar debates, preocupando-se não só com a liberdade de expressão e o fomento à discussão, mas também com a veracidade das informações que são veiculadas, a fim de evitar futuras demandas judiciais.

Atenciosamente,

MÁRCIO THOMAZ BASTOS

RUY OHTAKE

[1] Disponível em: http://www.revistaserrote.com.br/2011/07/niemeyer-guilherme-wisnik-e-pedro-fiori-arantes

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