Quatro perguntas a Carlito Carvalhosa sobre a exposição William Kentridge: fortuna

Quatro perguntas

21.11.12

Carlito Carvalhosa é um artista nascido em 1961 em São Paulo que vive no Rio de Janeiro e trabalha predominantemente com pintura e escultura. Nos anos 1980, realizou pinturas de grandes dimensões e integrou o grupo Casa 7, que incluía artistas como Nuno Ramos. Em 1989, recebeu bolsa do Deutscher Akademischer Austauch Dienst – DAAD [Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico], e permaneceu em Colônia, Alemanha, até 1992. Em 2011, realizou sua primeira exposição nos Estados Unidos, com “Sum of Days”, no MoMA. Carvalhosa respondeu a quatro perguntas do Blog do IMS acerca da exposição de William Kentridge, em cartaz no centro cultural do Rio de Janeiro até 17 de fevereiro de 2013.

1) O que mais lhe chamou a atenção na exposição William Kentridge: fortuna?

É uma exposição excelente que mostra os vários aspectos do trabalho dele, com uma montagem e curadoria muito boas. Gostei muito da relação do trabalho com a casa, acho que ficou muito mais interessante do que ficaria num museu mais “neutro”, pois o trabalho lida com memória, com a resistência das coisas (o desenho que vai sendo apagado e refeito, o uso intencional de tecnologias antigas etc.). A casa, transformada em instituto, dialoga com isso e abriga o universo dele de forma magnífica.

2) Você enxerga pontos de contato entre a sua obra artística e a de Kentridge?

Ele conseguiu criar um universo muito próprio, e ao mesmo tempo muito poderoso. É um artista único, mas a qualidade do trabalho faz a gente sair da exposição querendo fazer um monte de coisas. O ponto de contato entre o espectador e o artista é criar mundos que não estavam lá.

3) Muitas obras de Kentridge, especialmente alguns vídeos, expõem o processo criativo e brincam com isso. Você diria que esta é uma tendência entre os artistas contemporâneos?

Expor o processo criativo é algo já muito forte no modernismo, desde o começo do século XX. O humor é mais raro em arte, e acho uma das maiores qualidades do Kentridge o fato que ele não é gratuito: o humor vem junto com uma visão muito poética, lírica, como se houvesse uma suspensão à espera do que virá.

4) Várias de suas obras lidam com o uso de som. O que você acha do uso do recurso sonoro por parte de Kentridge, como, por exemplo, nos vídeos nos quais o som é emitido por um esquisito alto-falante dentro de um cone?

São duas coisas: o som e o uso de tecnologias mais antigas, como o telefone preto, o metrônomo, os alto falantes e os cones que lembram o construtivismo russo. São engenhocas que não só fazem algo, mas que parecem querer fazer algo. Não é preciso ouvir o som para se saber que daquele megafone deve sair algum som. O cone é a imagem (a representação) do som. A distância entre som e sua representação cria uma outra coisa, meio estranha, e muito poderosa.

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